Mostrando postagens com marcador Experiência própria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Experiência própria. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A todos os pais: Feliz Dia das Crianças


As lembranças mais distantes que tenho do Dia das Crianças me remetem à tristeza, à falta de amor, à disputa entre o ego de alguém que disseram ser meu pai e o ego de minha mãe.
No meio desse conflito, havia uma criança. Uma criança que teve de se tornar adulta muito cedo, mas que continuou a ser criança no seu coração.
Hoje eu continuo a ser essa criança, embora com 38 anos.
Tento viver as alegrias as quais me privaram de ter, a infância que me foi negada.
É por isso que, entre as coisas mais importantes que tenho na vida, surfar é a mais importante delas.
Porque quando eu surfo, criança sou, criança me sinto.
E quando eu sou a criança que habita dentro de mim, eu me sinto um pouco mais feliz.
Pense nisso, você que é pai, você que é mãe, e não prive seu filho da alegria que é ser criança. Ame-o!
Feliz dia Crianças para todos nós.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Aprendizado eterno


Porque no final mesmo, no final de todas as coisas, o que nos resta?
Se fomos felizes, e se transformamos a vida das pessoas ao nosso redor, tornando-as felizes também.
Nietzsche certa vez perguntou: "Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?"
Nesse momento Nietzsche, nesse exato momento, talvez não.
Mas eu ainda tenho a vida toda pela frente, e a eternidade toda para vivê-la.
E vivendo aprender, dia após dia, como tornar as pessoas mais felizes, sendo felizes junto com elas.
Eternamente.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Artigo definidO


...e fui caminhando e tentando encontrar em alguém Um amor, para então perceber qual era O amor que eu buscava. Um amor eu poderia ter - vários, dos mais diferentes tipos, falsos, semi-preciosos, verdadeiros em alguns momentos, intensos e cheios de paixão, mornos e indiferentes em outros instantes.
O amor era algo que eu sentia quando surfava sozinho, vendo o sol nascer pela manhã.
Um amor era algo passageiro que deixava uma marca superficial: passados alguns momentos não significava mais nada.
O amor deixa marcas profundas - eternas - mas só em corações amolecidos. Pela dor de Um amor, mas nunca de Um, apenas.
Mas tão e simplesmente por causa daquele.
O amor.

domingo, 13 de março de 2011

Apocalipse Motorizado



O que tem de pior nos carros é serem como castelos ou mansões à beira do mar: bens luxuosos inventados para o prazer exclusivo de uma minoria muito rica, os quais em concepção e natureza nunca foram direcionados para o povo. Ao contrário do aspirador de pó, do rádio, ou da bicicleta, que retêm seu valor de uso quando todos possuem um, o carro, como uma mansão à beira do mar, é somente desejável e útil a partir do momento que as massas não têm um. Por isso, tanto em concepção quanto na sua finalidade original o carro é um bem de luxo. E a essência do luxo é a de que ele não pode ser democratizado. Se todos puderem ter o luxo, ninguém obtém as vantagens dele. Do contrário, todos logram, enganam e frustram os demais, e é logrado, enganado e frustrado por sua vez.
Isto é de muitíssimo conhecimento comum no caso das mansões à beira mar. Nenhum político ousou ainda reivindicar que democratizar o direito às férias significasse uma mansão com praia particular para cada família. Todos compreendem que se cada uma entre 13 ou 14 milhões de famílias devessem usar somente 10 metros da costa, tomaria-se 140.000km de praia para que todos tivessem sua parte! Para dar a todos sua parte teria-se que cortar as praias em tiras pequenas – ou espremer tão fortemente as mansões – que seu valor de uso seria nulo e sua vantagem sobre um complexo hoteleiro desapareceria. De fato, a democratização do acesso às praias aponta a somente uma solução: a solução coletivista. E esta solução está necessariamente em guerra com o luxo da praia particular, que é um privilégio que uma minoria pequena toma como seu direito às custas de todos.
Agora, por que aquilo que é perfeitamente óbvio no caso das praias não é geralmente visto da mesma forma no caso do transporte? Como a casa de praia, um carro também não ocupa espaço escasso? Não priva os outros que usam as estradas (pedestres, ciclistas, motoristas de ônibus, etal.)? Não perde seu valor de uso quando todos usam os seus próprios? No entanto há uma abundância de políticos que insistem que cada família tem o direito ao menos a um carro e que é até encargo do “governo” tornar possível que todos possam estacionar convenientemente, dirijam facilmente na cidade, e possam viajar no feriado ao mesmo tempo que todos outros, indo a 70 mph nas estradas, às estações de férias.
A monstruosidade deste absurdo demagógico é imediatamente aparente, no entanto, mesmo a esquerda não desdém de recorrer a ela. Por que o carro é tratado como uma vaca sagrada? Por que, ao contrário de outros bens “privados”, ele não é reconhecido como um luxo anti-social? A resposta deve ser procurada nos dois aspectos seguintes da atividade de dirigir:
A massificação do automóvel efetua um triunfo absoluto do ideologia burguesa no nível da vida diária. Dá e sustenta em todos a ilusão de que cada indivíduo pode procurar o seu próprio benefício às custas de todos os demais. Leva ao egoísmo cruel e agressivo do motorista que em todos os momentos está figurativamente matando os “outros”, que aparecem meramente como obstáculos físicos à sua velocidade. Este egoísmo competidor e agressivo marca a chegada do comportamento universal burguês, e tem existido desde que dirigir tornou-se lugar comum. (“você nunca terá o socialismo com aquele tipo de pessoas”, um amigo alemão ocidental me disse, triste ao ver o espetáculo do tráfego de Paris).
O automóvel é o exemplo paradoxal de um objeto luxuoso que tem sido desvalorizado por sua própria propagação. Mas esta desvalorização prática não foi seguida ainda por uma desvalorização ideológica. O mito do prazer e benefício do carro persiste, embora se o transporte de massa fosse difundido, sua dominação seria golpeada. A persistência deste mito é explicado facilmente. A propagação do carro particular deslocou o transporte de massa e alterou o planejamento da cidade e da habitação de tal maneira que transfere ao carro o exercício de funções que sua própria propagação tornou necessárias. Uma revolução ideológica (“cultural “) seria necessária para quebrar este círculo. Obviamente não se deve esperar isto da classe dirigente (direita ou esquerda).
Permita-nos olhar mais de perto agora estes dois pontos.
Quando o carro foi inventado, ele o foi para prover poucos dos muito ricos com um privilégio completamente sem precedentes: viajar muito mais rapidamente do que todos os demais. Ninguém até então tinha sonhado com isso. A velocidade de todas as carroças era essencialmente a mesma, fosse você rico ou pobre. As carruagens dos ricos não eram mais velozes do que as carroças dos camponeses, e trens carregavam todos na mesma velocidade (não possuíam velocidades diferentes até eles começarem a competir com o automóvel e o avião). Assim, até a virada do século, a elite não viajava em uma velocidade diferente do povo. O carro a motor iria mudar tudo isto. Pela primeira vez as diferenças de classe foram estendidas à velocidade e aos meios de transporte.
Este meio de transporte no início parecia inacessível às massas – ele era muito diferente dos meios de transporte comuns. Não havia nenhuma comparação entre o carro a motor e os outros: o bonde, o trem, a bicicleta, ou a carroça. Seres excepcionais saíam em veículos com auto-propulsão que pesavam pelo menos uma tonelada e cujos órgãos mecânicos extremamente complicados eram tão misteriosos quanto escondidos das vistas. Um aspecto importante do mito do automóvel é que pela primeira vez as pessoas andavam em veículos particulares cujos mecanismos de funcionamento eram completamente desconhecidos deles, e cuja manutenção e alimentação tiveram que confiar a especialistas. Aqui está o paradoxo do automóvel: parece conferir aos seus proprietários liberdade ilimitada, permitindo que viajem quando e a onde quiserem em uma velocidade igual ou maior que a do trem. Mas de fato, esta aparência de independência tem por debaixo uma dependência radical. Ao contrário do cavaleiro, do carroceiro, ou do ciclista, o motorista iria depender para suprir combustível, assim como para o menor tipo de reparo, dos negociantes e dos especialistas em motores, lubrificação e ignição, e da possibilidade de troca das peças. Ao contrário de todos os proprietários anteriores de meios de locomoção, o relacionamento do motorista com seu veículo viria a ser aquele do usuário e consumidor – e não do proprietário e do mestre. Este veículo, em outras palavras, obrigaria o proprietário a consumir e usar uma gama de serviços comerciais e produtos industriais que somente poderiam ser fornecidos por um terceiro. A independência aparente do proprietário do automóvel apenas escondia a dependência radical real.
Os magnatas do petróleo foram os primeiros a perceber o ganho que poderia ser extraído da distribuição em escala do carro a motor. Se as pessoas pudessem ser induzidas a viajar em carros, eles poderiam vender o combustível necessário para movê-los. Pela primeira vez na história, as pessoas tornar-se-iam dependentes de uma fonte comercial de energia para sua locomoção. Haveriam tantos clientes para a indústria de petróleo quanto houvessem motoristas – e uma vez que haveriam tantos motoristas quanto houvessem famílias, a população inteira se transformaria em cliente dos comerciantes de petróleo. O sonho de todo capitalista estava a ponto de se realizar. Todos iriam depender para suas necessidades diárias de um produto que uma única indústria possuía em monopólio.
Tudo que se deveria fazer era deixar a população dirigir carros. Pouca persuasão seria necessária. Seria suficiente baixar o preço do carro usando a produção em massa e a linha de montagem. As pessoas atropelariam umas as outras para comprá-lo. Correriam sem perceber que estavam sendo conduzidas pelo nariz. O que, de fato, a indústria do automóvel lhes ofereceu? Apenas isto: “de agora em diante, como a nobreza e a burguesia, você também terá o privilégio de dirigir tão rápido quanto qualquer um. Em uma sociedade de carro a motor o privilégio da elite é tornado disponível a você”.
As pessoas se apressaram para comprar carros até que, quando a classe trabalhadora começou a os comprar também, os motoristas perceberam que haviam sido enganados. Tinha sido prometido a eles um privilégio de burgueses, tinham entrado em débito para adquiri-lo, e agora viam que qualquer um poderia também obter um. Qual é o gosto de um privilégio se todos puderem o ter? É um jogo de tolo. Pior, ele coloca todos em posição antagônica contra todos. A paralisação geral é criada por um engarrafamento geral. Quando todos reivindicam o direito de dirigir na velocidade privilegiada da burguesia, tudo pára, e a velocidade do tráfego da cidade cai vertiginosamente – em Boston como em Paris, Roma, ou Londres – abaixo daquele da carroça; no horário do rush a velocidade média nas estradas abertas cai abaixo da velocidade de uma bicicleta.
Nada ajuda. Todas as soluções foram tentadas. Todas elas terminam piorando as coisas. Não importa se elas aumentam o número de vias expressas, túneis, elevados, estradas de 16 pistas e estradas com pedágio na cidade, o resultado é sempre o mesmo. Quanto mais estradas a serviço, mais os carros as obstruem, e o tráfego da cidade torna-se mais paralisantemente congestionado. Enquanto houverem cidades, o problema permanecerá sem solução. Não importa quão larga e rápida uma superhighway seja, a velocidade na qual os veículos podem sair dela para entrar na cidade não pode ser maior do que a velocidade média nas ruas da cidade. Enquanto a velocidade média em Paris é 10 a 20 kmh, dependendo da hora, ninguém poderá sair delas em torno e na capital a mais do que 10 a 20 kmh.
O mesmo é verdadeiro para todas as cidades. É impossível dirigir a mais do que uma média de 20kmh na embaraçada rede de ruas, de avenidas, e de bulevares que caracterizam as cidades tradicionais. A introdução de veículos mais rápidos inevitavelmente atrapalha o tráfego da cidade, causando gargalos – e por fim uma paralisação completa.
Se o carro deve prevalecer, há ainda uma solução: livre-se das cidades. Isto é, enfileire-os por centenas de milhas ao longo de enormes estradas, fazendo delas subúrbios de estradas. Isto é o que está sendo feito nos Estados Unidos. Ivan Illich mostra a conseqüência deste modo: “O americano típico devota mais de 1500 horas no ano (que são 30 horas por semana, ou 4 horas por dia, incluindo domingos) a seu carro. Isto inclui o tempo gasto atrás do volante, andando e parado, as horas de trabalho para pagar por ele e para pagar pelo combustível, pneus, pedágios, seguro, bilhetes e taxas. Deste modo ele toma deste americano 1500 horas para andar 6000 milhas (no curso de um ano). Três milhas e meia custam-lhe uma hora. Nos países que não têm uma indústria do transporte, as pessoas viajam exatamente nesta velocidade a pé, com a vantagem que podem ir onde quiserem e de não estarem restritas às estradas de asfalto”.
É verdade, Illich aponta, que em países não-industrializados a viagem usa somente 3 a 8% do tempo livre da pessoa (que é aproximadamente duas a seis horas na semana). Assim uma pessoa a pé anda tantas milhas em uma hora gasta em viagem quanto uma pessoa em um carro, mas devota 5 a 10 vezes menos tempo na viagem. Moral: Quanto mais difundidos veículos rápidos estão dentro de uma sociedade, mais tempo – a partir de um determinado ponto – as pessoas gastarão e perderão viajando. Isto é um fato matemático.
A razão? Nós acabamos de vê-la: As cidades foram divididas em infinitos subúrbios de estrada, porque esta era a única maneira de evitar o congestionamento em centros residenciais. Mas o lado oculto desta solução é óbvio: finalmente as pessoas não podem se deslocar convenientemente porque estão distantes de tudo. Para construir espaço para os carros, as distâncias foram aumentadas. As pessoas vivem longe de seu trabalho, longe da escola, longe do supermercado – que requer então um segundo carro para que as compras possam ser feitas e para as crianças irem à escola. Passeios? Fora da questão. Amigos? Há os vizinhos… e só. Na análise final, o carro desperdiça mais tempo do que economiza e cria mais distâncias do que supera. Naturalmente, você pode ir ao trabalho a 60 mph, mas isto porque você vive a 30 milhas de seu trabalho e está disposto a dar meia hora às últimas 6 milhas. Somando tudo: “uma boa parte do trabalho diário é gasto para pagar pela viagem necessária para ir ao trabalho”. (Ivan Illich).
Talvez você esteja dizendo, “mas ao menos desta maneira você pode escapar do inferno da cidade após o fim do dia de trabalho”. Lá nós estamos, agora nós sabemos: “a cidade”, a grande cidade que por gerações foi considerada uma maravilha, o único lugar que vale a pena viver, é considerada agora um “inferno”. Todos querem escapar dela para viver no campo. Por que esta reversão? Por uma única razão. O carro fez a cidade grande inabitável. A fez fedorenta, barulhenta, sufocante, empoeirada, congestionada, tão congestionada que ninguém quer sair mais de tardinha. Assim, uma vez que os carros mataram a cidade, nós necessitamos carros mais rápidos para fugir em superestradas para os subúrbios que estão ainda mais distantes. Que argumento circular impecável: dê-nos mais carros de modo que nós possamos escapar da destruição causada pelos carros.
De um artigo luxuoso e uma marca de privilégio, o carro transformou-se assim numa necessidade vital. Você tem que ter um para escapar do inferno urbano dos carros. A indústria capitalista ganhou assim o jogo: o supérfluo tornou-se necessário. Não há mais a necessidade de persuadir as pessoas de quererem um carro; sua necessidade é um fato da vida. É verdadeiro que alguém possa ter suas dúvidas ao prestar atenção à fuga motorizada ao longo das estradas do êxodo. Entre 8 e 9:30 da manhã., entre 5:30 e 7 da tarde, e em fins de semana por cinco ou seis horas as rotas de fuga se prolongam nas procissões de para-choque-à-para-choque que vão (no máximo) à velocidade de um ciclista e em uma nuvem densa de emanações da gasolina. O que sobra das vantagens do carro? O que é deixado quando, inevitavelmente, a velocidade superior nas estradas é limitada exatamente pela velocidade do carro mais lento?
Nítido suficiente. Após ter matado a cidade, o carro está matando o carro. Prometendo a todos poderem andar mais rapidamente, a indústria do automóvel termina com o resultado previsível de que todos tem que andar tão lentamente quanto o mais lento, em uma velocidade determinada pelas leis simples da dinâmica dos fluidos. Pior: sendo inventado para permitir que seu proprietário vá a onde deseja, na velocidade e tempo que deseja, o carro transforma-se, de todos os veículos, no mais servil, perigoso, não dependente e incômodo. Mesmo se você deixa uma extravagante quantidade de tempo, você nunca sabe quando os gargalos o deixarão chegar lá. Você está limitado à estrada tão inexoravelmente quanto o trem a seus trilhos. Não mais do que o viajante de trem, pode você parar em um impulso, e como o trem você deve ir em uma velocidade decidida por outra pessoa. Concluindo, o carro não tem nenhuma das vantagens do trem e possui todas as suas desvantagens, mais algumas próprias: vibração, espaço apertado, o perigo dos acidentes, o esforço necessário para dirigi-lo.
No entanto, você pode dizer, as pessoas não tomam trem. Claro! Como poderiam? Você já tentou alguma vez ir de Boston a New York de trem? Ou de Ivry a Treport? Ou de Garches a Fountainebleau? Ou de Colombes a l’Isle-Adam? Você tentou em um sábado ou domingo de verão? Bem, então tente e boa sorte! Você observará que o capitalismo do automóvel pensou em tudo. Tão logo o carro matou o carro, ele fez com que as alternativas desaparecessem, tornando compulsório, deste modo, o carro. Assim, primeiramente o estado capitalista permitiu que as conexões de trilho entre as cidades e o campo circunvizinho se deteriorassem, e então acabou com elas. As únicas que foram poupadas foram as conexões inter-municipais de alta velocidade que competem com as linhas aéreas para uma clientela de burgueses. Há um progresso para você!
A verdade é que ninguém tem realmente qualquer escolha. Você não é livre para ter um carro ou não porque o mundo dos bairros é projetado em função do carro – e, cada vez mais, é assim o mundo da cidade. É por isso que a solução revolucionária ideal, que é afastar o carro em proveito da bicicleta, do ônibus, e do bonde, não é sequer mais aplicável nas cidades grandes como Los Angeles, Detroit, Houston, Trappes, ou Bruxelas, que são construídas por e para o automóvel. Estas cidades estilhaçadas são formadas por alinhadas ruas vazias possuindo desenvolvimentos idênticos; e sua paisagem urbana (um deserto) diz, “estas ruas são feitas para se dirigir tão rapidamente quanto possível do trabalho para casa e vice-versa. Você anda através daqui, você não vive aqui. No fim do dia de trabalho todos devem permanecer em casa, e qualquer um encontrado na rua depois do anoitecer deve ser considerado suspeito de ‘fazer o mal’”. Em algumas cidades americanas o ato de dar uma volta nas ruas à noite é vista como suspeita de crime.
Então estamos fritos? Não, mas a alternativa ao carro terá que ser abrangente. Para que as pessoas possam abandonar seus carros, não será suficiente lhes oferecer um transporte de massa mais confortável. Terão que poder dispensar o transporte por se sentirem em casa nos seus bairros, nas suas comunidades, nas suas cidades de tamanho humano, e por sentirem prazer em andar do trabalho para casa a pé, ou se preciso for, de bicicleta. Nenhum meio de transporte e fuga veloz jamais compensará a vexação de viver em uma cidade inabitável na qual ninguém se sente em casa, ou a irritação de somente ir à cidade para trabalhar ou, por outro lado, de estar sozinho e dormir.
“As pessoas”, escreve Illich, “quebrarão as correntes do domínio do transporte quando voltarem a amar, como se fosse seu próprio território, seu próprio ritmo particular, e temer ficar demasiado distante dele”. Mas a fim de amar “o seu território” ele deve antes de mais nada ser habitável, e não congestionável. O bairro ou a comunidade devem novamente transformar-se em um microcosmo esculpido por e para todas as atividades humanas, onde as pessoas possam trabalhar, viver, relaxar, aprender, se comunicar, e discutir sobre ela, e no qual elas controlem conjuntamente como o lugar de sua vida em comum. Quando alguém lhe perguntou como as pessoas gastariam seu tempo após a revolução, quando o desperdício capitalista tivesse sido eliminado, Marcuse respondeu, “nós traremos à baixo as grandes cidades e construiremos novas. Isso manter-nos-á ocupados por enquanto”.
Estas novas cidades poderiam ser federações de comunidades (ou de bairros) cercadas por cinturões verdes nos quais cidadãos – e em especial crianças em idade escolar – passariam diversas horas da semana cultivando os alimentos frescos de que necessitam. Para se locomoverem todos os dias poderiam usar todos os tipos do transporte adaptados a uma cidade de tamanho médio: bicicletas, bondes ou bondes elétricos municipais, táxis elétricos sem motoristas. Para longas viagens no país, assim como para convidados, uma quantidade de automóveis comunais estaria disponível em garagens do bairro. O carro não seria mais uma necessidade. Tudo teria mudado: o mundo, a vida, as pessoas. E isto não virá por si só.
Entretanto, o que deve ser feito para se chegar lá? Sobretudo, nunca faça do transporte um assunto em si mesmo. Conecte-o sempre ao problema da cidade, da divisão social do trabalho, e à maneira que isto compartimentaliza as muitas dimensões da vida. Um lugar para o trabalho, outro para “viver”, um terceiro para as compras, um quarto para aprender, um quinto para entretenimento. A maneira que nosso espaço é arranjado dá continuidade à desintegração das pessoas que começa com a divisão de trabalho na fábrica. Corta uma pessoa em fatias, corta nosso tempo, nossa vida, em fatias separadas de modo que em cada uma você seja um consumidor passivo a mercê dos comerciantes, de modo que nunca lhe ocorra que o trabalho, a cultura, a comunicação, o prazer, a satisfação das necessidades, e a vida pessoal podem e deveriam ser uma e mesma coisa: uma vida unificada, sustentada pelo tecido social da comunidade.

Le Sauvage, Setembro-Outubro de 1973

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

...vou vivendo, doutor...

A testemunha descreve a cena tal qual a vítima fez constar no boletim de ocorrência. Por volta das 16h do dia 19 de outubro, o estagiário, após entregar um processo na seção de documentos administrativos, que fica no subsolo do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, dirigiu-se para a agência do Banco do Brasil no complexo de prédios da corte a fim de fazer um depósito por envelope para uma amiga. Vestindo camisa polo, calça jeans e sapato social, foi informado por um funcionário da agência de que em apenas um dos caixas eletrônicos poderia ser feita a transação. Justamente aquele, em uso por um homem de terno e gravata, aparentando 1,60 metro, que ele inicialmente não reconheceu. Postou-se atrás de linha de espera, traçada no chão da agência. O diálogo que se seguiu foi o seguinte:
.
- Quer sair daqui? Estou fazendo uma transação pessoal – disse o senhor, após voltar-se duas ou três vezes para trás, “de forma um tanto áspera”, como relataria o jovem, em seu português impecável.
,
- Senhor, eu estou atrás da linha de espera. – foi a resposta, “em tom brando”, como contou, ou “de forma muito educada”, na confirmação da testemunha.
.
- Vá fazer o que tem que fazer em outro lugar! – esbravejou o homem em frente ao caixa eletrônico.
,
- Mas, senhor, minha transação só pode ser feita neste caixa…
,
- Fora daqui! – o grito, a essa altura, chamou a atenção de pessoas que passavam e aguardavam na agência.
,
E foi completada pelo veredicto, aos brados:
,
- Eu sou Ari Pargendler, presidente deste tribunal. Você está demitido, entendeu? Você está fora daqui, isto aqui acabou para você. De-mi-ti-do!

Assim terminou a carreira do estudante de administração Marco Paulo dos Santos, de 24 anos, na segunda mais alta corte do País. Ele entrara no STJ no início do ano, após passar por um processo seletivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), na capital federal, do qual participaram mais de 200 candidatos. Marco ficou entre os dez primeiros. Todos os dias, saía do apartamento onde mora com a mãe e o irmão em Valparaíso de Goiás, cidade-satélite a 35 km de Brasília, e levava uma hora de ônibus até chegar ao estágio. Dava expediente das 13h às 19h, pelo que recebia R$ 600 por mês, mais R$ 8 por dia de auxílio-transporte. Pouco importa. Martelo batido. “Foi uma violência gratuita”, avalia a brasiliense Fabiane Cadete, de 32 anos, que estava sentada com uma amiga na fila de cadeiras ao lado dos caixas eletrônicos naquele dia. “Ele (Pargendler) gritava, gesticulava e levantava o peito na direção do Marco.” Chamou-lhe especialmente a atenção a diferença de estatura – literal, no caso – dos dois protagonistas. Marco tem 1,83 metro. “O juiz puxou tanto o cordão do crachá para ler o nome do menino, que as orelhas dele faziam assim, ó”, mostra ela, empurrando as suas próprias como se fossem de abano.

Batalha difícil
Fabiane conta que ficou receosa antes de decidir depor em favor de Marco – que, no dia seguinte, registrou queixa por “injúria real” contra o presidente do STJ na 5ª delegacia da Polícia Civil do Distrito Federal. Funcionária de uma empresa que presta serviços ao tribunal, ela jura que nunca tinha visto Marco antes na vida, mas ainda assim se dispôs a contar o que viu. A amiga, que tem mais anos de casa no STJ, preferiu se preservar. “Eu não me sentiria em paz comigo mesma se não falasse”, explica Fabiane, que cursa direito no Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb). “Como futura advogada, fiquei decepcionada com o ministro.”

Como Ari Pargendler só pode ser julgado em instância superior no Judiciário, o delegado Laércio Rossetto encaminhou o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde o processo corre em segredo de Justiça. Remetido inicialmente para a ministra Ellen Gracie, esta se declarou impedida por manter relações de amizade com Pargendler. Redistribuído pelo presidente do Supremo, Cezar Peluso, caiu nas mãos do ministro Celso de Mello, jurista que não tem por hábito “sentar em cima” dos casos mais polêmicos.

O depoimento de Fabiane animou o até então cauteloso advogado de Marco, preocupado em não expor seu cliente a uma contraofensiva judicial. “Não tenho vocação nenhuma para Policarpo Quaresma”, diz Antonielle Julio, que teve uma prévia das dificuldades que vai enfrentar quando solicitou à gerência do Banco do Brasil no STJ as imagens do circuito interno de segurança, que revelariam facilmente quem está com a razão. Ouviu que o sistema apresentou falha técnica e “não há imagem alguma”.

A Bíblia e os ‘policiais’
Marco Paulo dos Santos é negro, filho de brasileira com africano e nascido na Grécia. Vista de perto, sua história de vida é tão espantosa quanto o diálogo supostamente travado na agência bancária do STJ. Sua mãe, a doméstica Joana D’Arc dos Santos, de 56 anos, natural de Raul Soares (MG), passou como ele por um concurso que mudaria o rumo de sua existência. Ainda solteira, na década de 80, leu um anúncio no jornal Estado de Minas em que a esposa de um diplomata mineiro procurava uma empregada para acompanhar a família em seu novo posto no exterior. Quando chegou a Belo Horizonte para a entrevista, uma centena de candidatas já havia passado pelo crivo da patroa, mas foi Joana quem levou. “Ela agradou mais de mim”, conta, na construção típica da zona da mata mineira.

Em Atenas, Joana conheceu o marinheiro cabo-verdiano José Manoel da Graça, que trabalhava em um navio petroleiro. O namoro deslizava em mar de rosas, quando o patrão recebeu ordens do Itamaraty para se transferir para a Embaixada do Brasil no Chile. E lá se foi Joana D’Arc de volta para a América. Mas, com banzo de seu africano, em pouco tempo abandonava o emprego para voltar a sua odisseia grega. Amigou-se com Manoel em Atenas e teve com ele dois filhos: Daniel David e Marco Paulo.

Cinco anos depois, foi a saudade do Brasil que bateu e Joana embarcou de volta com os meninos. Primeiro, para Minas; depois, Brasília. Manoel foi navegar outros mares. “Fiquei esperando, porque ele nunca disse que não vinha. Os telefonemas foram rareando, só Natal, aniversário… E Manoel acabou não vindo”, dá de ombros. Hoje, é com a tormenta jurídica do caçula que ela se preocupa. “Sabe como é, a gente foi criada no negócio do ‘deixa pra lá’. Mas ele decidiu assim, entrego nas mãos de Deus.”

Em casa, o primogênito Daniel, hoje com 27 anos, é o voluntarioso e bem-humorado. Já Marco sempre foi introvertido e responsável. A mãe conta que, enquanto faxinava nas casas de família, o garoto dava um jeito de se enfurnar na biblioteca dos patrões. “Sempre foi menino de ler. Passava duas, três horas… eu até esquecia dele.” Daí a facilidade, talvez, com que passou em todos os testes que fez até hoje, inclusive o do Prouni – programa de bolsas de estudos do governo, que lhe permite cursar administração no Iesb.
Evangélico, como toda a família, Marco traz sempre a Bíblia debaixo do braço. E algum romance policial de Agatha Christie e Conan Doyle. Mas também passeou por leituras mais substanciosas, como O Príncipe, de Nicolau Maquiavel. “É uma aula de vida. Ele juntou todo o conhecimento de como se governar, lidar com as pessoas, a política e o poder. É muito útil para um administrador”, ensina o estagiário defenestrado do STJ.

Na melodia do Supremo
Outro dos talentos de Marco é a música. Na igreja, deu seus primeiros acordes. E logo conseguiu uma bolsa no tradicional Clube do Choro de Brasília, onde estuda violão de sete cordas. O professor, o instrumentista carioca Fernando César, de 40 anos, é só elogios: “Ele é um cara supertranquilo, aplicado e musical. Lê muito bem partitura”. Empreendedor precoce, escreveu e lançou em junho, por uma editora evangélica, um método de ensino de violão para os fiéis sem condições de pagar por um curso. Agora, ainda desempregado, dedica-se com mais afinco à execução de clássicos como Vou Vivendo, de Pixinguinha, cujos versos finais são: “Vou vivendo assim/ Porque o destino me fez um vadio/ Novo endereço ele vai traçar/ E virei para te avisar/ Quando à noite uma toalha de estrela/ Tiver para me cobrir”.

Mesmo apreensiva, Joana D’Arc não esconde o orgulho pela coragem do filho em enfrentar o presidente de uma das instituições mais poderosas do País. “Antes de ir para a Grécia eu era um bicho assustado. Achava que por ser negra e pobre era normal ser humilhada e maltratada. Mas lá, a gente entrava num restaurante ou em qualquer lugar chique e era recebido como todo mundo. Então, não deixei meus filhos crescerem com esse pensamento meu.”

Procurado pela reportagem do Aliás para dar sua versão dos fatos, o ministro Ari Pargendler disse por intermédio da assessoria que não vai se manifestar. No telefone da corte, em chamada de espera, ouve-se a seguinte mensagem: “Ter acesso rápido e fácil à Justiça é um direito seu. STJ, o Tribunal da Cidadania”.

fonte: Estadão

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Exílio


Uma maré gelada se agarrou ao litoral do sudeste brasileiro com determinação. Sua água escura e fria parece ter adotado as praias de São Sebastião, e também Guarujá, como morada de férias, do mesmo jeito que um gringo elege o Brasil e aqui fica, meio desbundado com a beleza e com a facilidade de se encostar.

Esse mesmo mar esfriou o vento sul e sudeste e empurrou sua temperatura baixa para dentro das florestas que resistem nas montanhas do litoral norte. Esses grupos de mata fechada são como revolucionários cubanos lutando contra o capitalismo e seus lotes imobiliários. São ilhas que, ao invés de Miami, têm o desenvolvimento de São Paulo como vizinho e ameaça.

Apenas com a diferença de que essa Cuba verde não vê seus moradores se jogando em balsas improvisadas rumo ao desenvolvimento e à grana. Na verdade, o que acontece é o contrário. Eu, que moro em São Paulo, me pego agora boiando em meu longboard no mar gelado e com ondas pequenas de Camburi. Têm locais juntos de mim mas a maioria dos surfistas que dominan o line up também não são daqui. Se lançaram na estrada com suas pranchas e desespero, esperando que o surfe os faça esquecer de onde precisam ganhar a vida para lembrarem de onde podem desfrutá-la. Eu sou um deles remando e torcendo para aceitarem meu pedido de asilo.

Os longboards ajudam a clorir a visão pois, com exceção do meu, a maioria é pintada de cores fortes que, num dia de sol e mar azul escuro como o de hoje, saturam o espetáculo. Essa era a primeira vez que surfo com tantos caras bons. Depois de cada onda, passam por mim sujeitos que, com muita elegância, manobram seus pranchões com a desenvoltura digna de filmes.

Algumas vezes, mais de um por onda e - sem deixarem o mau humor estragar o dia – sempre sorrindo por saberem que o mar é para todos. Essa visão me fez lembrar da matéria que havia lido na revista de surfe australiana Tracks, autoentitulada “A bíblia do Surfe”, sobre brasileiros invadindo aquele país.

O jornalista nos descreve como desesperados, expurgados do Brasil pela pobreza, violência e corrupção pública para crowdear as cidades da Gold Coast em busca de uma vida digna e repleta de boas ondas. Termina nos dando as boas-vindas, mas com uma sugestão: que não fôssemos para as melhores praias, mas para as cidades ao lado, onde não causaríamos tanto incômodo.

A unânimidade do artigo é a nossa falta de educação e de como “seríamos capazes de remar por cima de nossas próprias avós para dropar uma da série.”. Olho para o meu reflexo n’água, me viro e vejo todos os outros que estão surfando ao meu redor, felizes e silenciosos. Não nos reconheço naquela descrição. Não nesse dia.

Felipe Luchi, via Chasing the Lotus

terça-feira, 27 de julho de 2010

A vida a caminho do Guarujá



Abri o olho devagar. Eu já tinha acordado há algum tempo e esse processo não passou de uma negociacão racional entre eu e minhas pupilas.

Fui deixando a luz entrar, desenhando na retina, pouco a pouco, os espaços do quarto, os spots de luz do teto, a cor do edredon, a TV desligada virada na minha direção e as frestas da janela.

O nariz acordou depois e ajudou os olhos a encontrarem na cama, pelo perfume, a menina que dormiu comigo. A presença dela, o cansaço fruto da semana exigente e da noitada de sexta-feira foram se misturando na elaboração da desculpa para não ir surfar.

Desculpa para convencer apenas a mim mesmo, afinal, já era uma hora da tarde e se meus amigos tivessem ido para a praia, já estariam n'água há muito tempo.

Um rabicho de sono, esquecido em algum canto, me alcançou enquanto eu rolava para o lado, enfiando meu nariz entre os cabelos dela para me esconder da responsabilidade e dividir, assim, a culpa pela preguiça.

Mas, não. O surfe muda tudo e depois dele eu nunca mais consegui ficar na cama num sábado. Nessa tarde não seria diferente e após uma hora, gasta entre tomar café, prender prancha no teto do carro e buscar biquini, estávamos os dois, na estrada, conversando sobre a vida a caminho do Guarujá.

O papo ajudou o tempo a passar e, enquanto a ouvia falar sobre bebedeiras e outras estórias, com o canto do olho vi o sol baixar cada vez mais rápido, me obrigando a fazer as contas de quanto tempo de surfe eu teria até que a luz acabasse: uma hora, um pouco mais se tivesse sorte.

Foi a primeira vez que caí no Tombo num final de tarde. A praia é virada para o sul, o que faz com que o sol se ponha no continente, bem atrás da areia. A cada onda que vinha eu me virava e, remando para o drop, dava de cara com o alaranjado e magenta das últimas luzes do dia.

O mar estava bom e todos que estavam dentro d'água teimavam em deixá-lo. A visibilidade foi piorando muito graças à chegada da noite e de uma bruma que veio de longe, avançou pela areia, ruas e prédios, deixando tudo um pouco embaçado e grudento. Olhei para a praia tentando ver a menina que, mal iluminada pelas poucas luzes vindas dos bares na calçada, desaparecia entre a maresia e o breu.

Quando estava para sair d'água, veio uma ótima onda. Era para ser a última, mas, de tão boa, me fez querer mais outra e me obriguei a remar de volta para dentro do mar escuro. Cheguei na areia uns vinte minutos depois e apesar dela estar lá me esperando, alguma coisa tinha acontecido entre nós. Ou deixado de acontecer, vai entender.

Mas fato é que, depois desse sábado, achamos melhor nos despedirmos um do outro. Justo que tenha sido assim. Acredito que ambos saímos dali com um frame na memória: há algum tempo a bruma tinha entrado no nosso curto relacionamento e a imagem dela, desaparecendo sentada na areia, me pareceu um sinal. Talvez para ela, eu, remando para o outside naquela tarde, também tenha sido revelador de alguma forma.


segunda-feira, 26 de julho de 2010


"Estou na água, boiando. Do meu lado um garotinho de no máximo oito anos num longboard gigantesco passa rasgando, impulsionado por um empurrão de seu pai. Assim que ele se sente carregado pela onda, se levanta e fica de pé na prancha. Ao tentar se equilibrar, ele murmura, "Nossa! Nossa!!! Uau!!!" e ri, no auge da adrenalina por estar surfando. Escuto um amigo do pai orgulhoso comentar:

"Você acabou de acabar com qualquer possibilidade dele um dia se tornar presidente".


Trecho do livro Caught Inside: A Surfer's Year on the California Coast, Vi no Chasing the Lotus

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O fim das surras pedagógicas



O presidente Lula assinou hoje um projeto de lei revolucionário: as palmadas e surras tidas como educativas, aplicadas há séculos pelos pais aos filhos, poderão ser punidas agora com advertências, encaminhamentos a programas de proteção à família e orientação especializada. E não só os pais, os amorosos e exemplares pais, coitados. Os professores e cuidadores (dos quais ninguém cuida) também ficam proibidos de beliscar, empurrar ou mesmo bater em menores de idade.

Até então, a Lei 8.069, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente, condenava os maus-tratos contra a criança e o adolescente, mas não definia se os maus-tratos seriam físicos ou morais. Com o projeto assinado, o artigo 18 passa a definir “castigo corporal” como “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente”.

Em um país de cotidiana prática de tortura nas delegacias policiais, cometidas sempre contra os delinqüentes de fato ou em potência, a saber, negros e pobres; em um país cuja maior escola, para todo o povo, foi e tem sido a herança da escravidão, que naturalizou a dor contra pessoas como se fossem bestas; em um país que mal saiu de uma ditadura que matou, destruiu e mutilou brasileiros sob o aleijão ideológico de que apagavam terroristas, o projeto assinado pelo presidente é um salto para a civilização.

Pelos comentários que agora correm em toda a web, sabemos bem quem se opõe ao projeto de lei: vêm sempre de indivíduos de extrema-direita ou conservadores de todo gênero. Alguns podem ser tomados como representantes do pensamento de nossa educação pela porrada. Dentre os mais legíveis, excluídos os insultos sórdidos à pessoa do presidente, colho:

“… não aceito interferência do Estado dentro da minha casa, na condução da educação dos meus filhos… Os pais ficam nessa de dialogar e as crianças tomarão conta da casa. Não respeitando mais os pais, não respeitarão nenhum adulto… Não vai ter juiz, desembargador ou presidente, que vai me dizer como educar meus filhos. …Na minha opinião o ECA veio para estragar ainda mais a ordem em nosso pais, porque amparados por esse estatuto temos centenas de menores com 16, 17 anos praticando crimes e ficando impunes. Na minha opinião a lei mais forte é o direito dos pais de educarem seus filhos”.

Observem que a média de nossos bárbaros ainda nem assimilou o ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que para eles é só eca, porcaria, nojo, nada mais. No entanto, creiam, o projeto de Lula segue uma tendência mundial. Ele cumpre uma recomendação do Comitê da Convenção sobre Direitos da Criança das Nações Unidas, para que os países passem a ter legislação própria referente ao tema. A Suécia nos antecipou em 1979. Depois vieram Áustria, Dinamarca, Noruega e Alemanha. Atualmente 25 países têm legislação para proibir essa prática. Na América do Sul, até então, apenas o Uruguai e a Venezuela possuíam lei semelhante. Agora, vem o Brasil. É tempo, há tempo não somos mais o fim do mundo.

O presidente Lula, do alto de sua cultura extraordinária (sinto que explicar isso exigiria um outro artigo), homem educado na vida política e sindical, traz agora para todos os brasileiros os avanços do resto do mundo. Eu, que fui criado sob o lema paterno de “bato num filho como quem bate num homem”, e que sob tão alto princípio recebi as lições educativas de surras de borracha, mangueira de jardim e socos, bem conheço o alcance do projeto assinado pelo presidente. Salve. Assuntos de desrespeito à pessoa, de brutalidade contra jovens, não são assuntos de foro íntimo, da vida privada, a se resolverem entre quatro paredes. Violência educativa não pode nem deve continuar a ser assunto restrito aos pais e doces educadores.

Com esse projeto, parece que chegou a hora de as crianças brasileiras receberem o mesmo afeto e cuidado que as mulheres e senhores classe média dispensam a seus cachorrinhos. Tão fofos, eles, os cachorrinhos.
Urariano Mota

domingo, 11 de julho de 2010

Hustene chorou baixinho


Ao se deitar na noite
de 28 de junho, Hustene Alves Pereira, mais conhecido pela família e amigos como Pankinha, chorou baixinho. Estava a dois dias de completar 51 anos e se sentia humilhado.
Para compreender o sentimento de Hustene, é preciso saber que espécie de homem ele é. Eu o encontrei pela primeira vez numa reportagem no início de 2002. O país era castigado pelo desemprego, e eu buscava um brasileiro que contasse este momento histórico pela vida, não pelas estatísticas. Um que estivesse no parapeito do abismo. Não quando acabamos de perder o emprego e a possibilidade de conseguir outro logo é uma promessa que quase tocamos com a mão. Nem aquele outro período, anos depois, em que a esperança já se foi e manter a cabeça erguida em cima do pescoço é um esforço grande demais.
Eu buscava o momento que me parece o mais trágico, quando percebemos que o abismo se descortina como vertigem e nos agarramos aos capins da borda conscientes de que não impedirão nossa queda. O instante em que os filhos começam a sustentar a casa sacrificando o próprio futuro, os produtos anunciados na televisão são para outros e nos escondemos durante o dia para ocultar dos vizinhos que não temos para onde ir. Quando descobrimos que não há lugar para nós no projeto do presente, que nossa vida é para a geração seguinte, reduzidos a gráficos que os especialistas explicam sem precisar manchar as mãos com nosso sangue.
Hustene vivia este exato instante. Continha nele todas as estatísticas, mas nele elas eram carne. Morava, como ainda mora, na periferia de Osasco, na Grande São Paulo, quatro filhos e uma mulher que ama. Numa casa de sala, cozinha e quarto, além do terraço e do banheiro, num terreno que divide com parentes. Quando o conheci, era um homem com brilho nos olhos, discurso articulado, esperneando contra todo um país que falhava com ele.
Tentava compensar os estudos que não pôde terminar lendo tudo o que lhe caía nas mãos e buscando na TV programas que pudessem lhe ensinar alguma coisa. Com um senso tão grande e tão particular de honestidade que preferia andar a pé dezenas de quilômetros por dia em busca de emprego a aceitar passagens de ônibus da prefeitura. Hustene achava que tudo que não ganhava com trabalho era esmola.
Acompanhei-o por um tempo em sua peregrinação, dividi com sua família o feijão que sua mulher, Estela, tornava saboroso com pouco além de um tempero que só podia ser amor. E depois que a reportagem foi publicada continuamos nos acompanhando mutuamente, às vezes perto, às vezes mais longe. Nos últimos oito anos testemunhei Hustene lutar pela sua vida de todos os modos, com uma força que quem o visse pela primeira vez não adivinharia naquele homem tão franzino. Lutando pela literalidade de sua vida que a precariedade do sistema público de saúde solapava, pela dignidade de sua vida sem a qual ele não admitia seguir existindo.
Se me perguntassem um dia o que para mim é mais triste testemunhar como repórter, como gente, eu diria que é o desperdício da vida humana. Não apenas pela morte em si, mas pela vida que não pôde se tornar tudo o que poderia ter sido. O desperdício do potencial de homens e mulheres. As tantas pessoas com uma capacidade extraordinária, mas que não tiveram as condições mínimas para desenvolvê-las. E, o pior, com a consciência do que poderiam ser se tivessem nascido em um país com uma desigualdade menos abissal que o Brasil. Vidas roubadas porque o Brasil está aquém de seus sonhos.
Hustene é um destes homens que sonhou mais com o país que o país com ele. E o Brasil foi triturando-o como o moinho da música famosa de Cartola. Nos mais de três anos em que ficou desempregado, apalpou o desespero sem cair no comportamento clássico de tantos. Não se embebedou em bares que não podia pagar, nem levantou a voz para a mulher ou bateu num filho. Em vez disso, desenhava e escrevia furiosamente em folhas de papel. Fazia bicos pagos aos trocados, carregando caixas enquanto uma bursite lhe arrancava lágrimas. Mas seguia acreditando na trindade em que havia assentado suas melhores esperanças: Che Guevara, Corinthians e Nossa Senhora de Fátima. E agarrado à sua carteira de trabalho. Ensinado que fora pelo pai, retirante nordestino, metalúrgico, que este é o documento mais importante na vida de um homem.
Quando já havia consumido todas as unhas para se manter agarrado às paredes do precipício, em 2005 Hustene conseguiu um emprego com carteira assinada e tornou-se o “porteiro Pereira”. Não era um trabalho à altura de sua capacidade, mas nunca, nunca mesmo, vi alguém tão feliz trabalhando por pouco mais que um salário mínimo. Às 4h20 da madrugada ele já estava dentro do primeiro ônibus, com um orgulho que só ele entendia, e cumpria turnos estafantes de 12 horas sem uma queixa. Hustene achava que tinha escalado o despenhadeiro. Mas em outubro do ano seguinte ele sentiu-se mal e Estela o  levou ao posto de saúde. O médico garantiu que era “só” uma crise de diabetes e o despachou para casa, onde ao chegar ele teve um AVC (acidente vascular cerebral) que paralisou o lado esquerdo de seu corpo.
Hustene reaprendeu a falar e a andar. Em 14 de abril de 2008 estava tão ou mais feliz que nas vitórias históricas do Timão: tinha arriscado seus primeiros passos sem bengala. Mas em janeiro de 2009 teve o segundo AVC. Agora ele se desequilibra mais, a força lhe escapa, sente náuseas. Esquece dos acontecimentos recentes. Nem sempre se lembra de tomar água. É Estela quem precisa avisá-lo para tomar os 16 comprimidos do dia além das três doses de insulina com que tenta manter o diabetes mais ou menos domado. Com o segundo derrame também se apagou dentro dele o dom do desenho.
Mas Hustene não perdeu sua lucidez. Ele ainda segue escrevendo no computador que ganhou, em diários com papel e caneta, sem perder um documentário na TV. Tão honesto como sempre, em sua casa nunca admitiu nem mesmo os “gatos”, as ligações clandestinas de eletricidade, TV por assinatura, etc. Nem mesmo nos piores momentos, ele fraquejou em fazer a coisa certa. A honestidade, tão fácil para quem pertence às classes mais favorecidas, ainda que não muito praticada, para os da estirpe de Hustene é uma conquista arrancada de cada um dos dias. Com tudo o que é, apesar de tudo que lhe tomaram, Hustene continua acreditando. De sua trindade, mantém a crença em Nossa Senhora de Fátima e no Corinthians, esmoreceu um tanto de Che Guevara. Em nenhum momento perdeu a fé no Brasil.
Há um ano começou a perceber que sua visão piorava. Descobriu-se que ele tinha uma doença grave e degenerativa. Mas os exames demoravam, assim como o tratamento. Uma amiga pagou-lhe um médico particular para obter um diagnóstico preciso. O profissional alertou que era muito sério e não dava para esperar. Se não se tratasse logo, ficaria cego. Mas não havia dinheiro para tratamento privado. Hustene voltou ao sistema público de saúde.
Mais de seis meses se passaram enquanto ele ainda espera por tratamento. Agora testemunha a acelerada ruína de sua visão. Tento imaginar o tamanho da impotência e do pavor que é acompanhar dia após dia a corrosão dos olhos sem conseguir a assistência médica necessária, a mercê de um sistema em que cada exame crucial demora meses para ser feito e, quando a data da consulta médica  finalmente chega, já é necessário fazer outro que levará mais alguns meses.  Não alcanço.
Mas ainda não foi por isso que na noite de 28 de junho Hustene chorou baixinho ao se deitar, a dois dias de completar 51 anos. Naquela segunda-feira ele levou uma hora e 50 minutos até alcançar o posto do INSS. Era dia do jogo do Brasil X Chile. Trêmulo, instável, com náuseas e
enxergando mal, ele apresentava-se na hora marcada desde maio para que um perito comprovasse a necessidade de renovação do seu benefício. Nas mãos, Estela tinha os laudos médicos exigidos. Para cada um deles, uma correria, muitos ônibus e muita fila. Como se dissesse algo como “hoje não temos brioches, volte daqui a dois meses”, uma funcionária informou-lhe que os peritos estavam em greve. E remarcou a perícia para 19 de agosto.
Junto com outros desesperados, Hustene voltou para casa. Os laudos médicos perdem a validade em 30 dias, só servirão para virar lixo reciclável. Mais ônibus, novas filas, para que outros sejam feitos, dificultando ainda mais uma existência sofrida e sobrecarregando também um sistema já deficiente. Enquanto não passar pela perícia, Hustene nada ganha para sustentar sua família. Meses sem dinheiro para o supermercado e as contas. Era por isso que ele chorava. Pelo pouco caso com a sua vida, uma vida que lhe custa tanto manter dentro dele.
Não me cabe julgar se a greve dos peritos do INSS é justa ou não. O que posso afirmar é que a situação de Hustene e de todos como ele é injusta. O que escrevo não é um relato sobre um acontecimento pontual, mas sobre uma vida roubada aos poucos, de várias maneiras diferentes. Igual a de milhões nos percalços, diversa de todas.
Nos chocamos com a destruição causada pelas guerras declaradas, quando a vida de um povo está seguindo seu curso e de repente tudo acaba, tudo se perde, sonhos destroçados junto com braços, cabeças e pernas. Aqui escrevo sobre as guerras invisíveis, em que tantos ainda morrem sem alarde e bem mais perto, pela omissão do Estado e de todos nós, mesmo quando o país começa a melhorar alguns de seus índices e diminuir sua fome. O massacre silencioso e persistente que se desenrola à margem dos que podem pagar por saúde e educação de qualidade, dos que têm rede de proteção quando ficam desempregados e dos que ao serem desrespeitados em seus direitos sacam o iPhone e acionam seus advogados.
Há um país que morre aos poucos e a cada dia ao nosso redor. Ao contrário de Hustene, que perdeu a saúde e agora perde também a visão por descaso, que é condenado a meses sem dinheiro para sustentar a família pela força de uma única frase pronunciada por uma funcionária pública, nós enxergamos bem, mas escolhemos ser cegos. Para ele, porém, não existe esta opção. É sua a vida que escapa como água entre seus dedos. São seus os sonhos triturados. É sua tragédia tudo o que poderia ser – e não será apenas porque nasceu no lado errado do mundo.
Acho curioso quando especialistas de todo tipo transformam a miséria do outro em parâmetros lógicos. Nos gráficos e análises destes técnicos e acadêmicos tudo faz sentido e nada purga. Eu gostaria de saber como eles encarariam se fossem eles a não ter a chance de ser – e seus os filhos sem chances. Histórias como a de Hustene são tão corriqueiras que nem sequer viram notícia. Agonias como a dele acontecem sempre, é por isso mesmo que deveríamos nos indignar. Em vez disso, nos anestesiamos. Temos voz, mas preferimos calar.
Tenho 44 anos, muito e pouco, dependendo do ângulo de quem olha. O suficiente para testemunhar a perda de indignação que vem nos corrompendo. A impossibilidade cada vez maior de vestir a pele do outro. Tão confinados e com tanto medo dentro de nossa própria pele que a dor do outro é encarada como uma ameaça ao frágil equilíbrio de nosso mundo cada vez menor. Então nos escondemos no cinismo, que é a pele sintética dos covardes.
Se um dia Hustene ficar cego, sei que seus olhos ainda vão brilhar com a mesma febre. Eu não sei como ele faz, porque há nele uma sabedoria que não existe em mim. Mas ele resiste. Ainda que claudicante, sem forças, espoliado o tempo todo, ele me assegura que é feliz. Pergunto a ele como, por que, de que matéria é feita essa força que o faz levantar a cada rasteira, ainda que restando no chão em alguns pedaços. “Eu vejo meus filhos em casa nos fins de
semana, o riso da minha neta, ao meu lado a mulher que amo e que escolheria em quantas vidas tivesse. E há ainda uma viralatinha linda que eu cuido chamada Pantera. Nunca precisei visitar um filho na prisão porque eles são honestos como eu. Sei que para eles sou espelho. Vou seguir lutando. Acredito no meu país, ele já foi pior para os pobres, está melhorando.”
Naquela noite, quando chorou baixinho, Hustene se sentia humilhado. Mas não só. Tinha dentro dele também revolta. Me escreveu para que sua voz me alcançasse e, através de mim, ele pudesse dizer que essa indiferença com a sua vida dói. Que essa indiferença pode matá-lo. E a morte para brasileiros como Hustene nunca vem como metáfora.
Depois, escreveu para dizer que segue acreditando. E lutando. E esperneando. Escreveu para dizer que não vai desistir de brigar pela vida.
fonte: Época

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Porque o Brasil vai perder (ou deveria) a Copa do Mundo


A seleção brasileira sacramentou a perda da Copa de 2010 durante a vitória de 3 a 1 sobre a Costa do Marfim. Parece incrível mas foi durante aqueles 90 minutos – no segundo confronto somente – que ficaram evidentes o despreparo para enfrentar situações adversas, a incompetência para gerir crises, a incapacidade para liderar subordinados, além do destempero e a incompetência para administrar as coisas do esporte.

Difícil acreditar que uma confederação – cinco vezes campeã do mundo – tenha escolhido tão mal uma comissão técnica. A começar pelo treinador que, logo no início da competição, se comportou como um torcedor alucinado – praticamente um “hooligan” – pronto para agredir e ofender quem quer que fosse e, ao mesmo tempo, incapaz de determinar os rumos do jogo contra um adversário – convenhamos – sem qualquer tradição e já derrotado.
Agitando-se à beira do campo como um touro de rodeio, aquele que deveria liderar e mover suas peças de acordo com as necessidades que o confronto exigisse deixou transparecer que não faz nem uma coisa nem outra – nem lidera nem move peças – uma vez que foi impedido pelo supervisor da CBF de substituir um nervosíssimo Kaká no instante em que o jogador era punido com um cartão amarelo. A expulsão do atleta viria cinco minutos depois.

Nesse instante cabem as perguntas: Se o treinador vive dizendo que manda na seleção como acatou a ordem de Américo Faria? Quem manda no time afinal?
Uma vez que o Comitê Disciplinar da Fifa não encontrou provas para abrir um processo contra o técnico brasileiro, é certo que a CBF as tem. E deveria seguir o que os franceses fizeram – embora a situação entre eles lá seja até mais grave.

Mas é preciso tomar medidas disciplinares contra alguém que ofende indiscriminadamente juízes, jogadores e jornalistas – neste último caso durante uma entrevista coletiva oficial, diante de câmeras e microfones do mundo inteiro. Para quem não sabe, o jornalista ofendido foi, no passado, comissário de bordo de avião de degredados e deportados – gente da pior espécie que viajava algemada. Não raro – como certa vez me contou – Alex Escobar ouvia ofensas e ameaças nos mais variados idiomas. Era fuzilado por olhares e caras feias. Presenciou diversos acessos de fúria de apátridas e terroristas. Ser chamado em português apenas de “cagão” – e outras bobagens – não o assustou mas, certamente, o surpreendeu.
É mesmo de causar espécie constatar que alguém tão autocentrado – e que enxergue a todos como inimigos – ocupe um cargo que requeira um mínimo de simpatia, inteligência emocional, equilíbrio, malandragem e jogo de cintura – também no trato com a imprensa. Impossível assistir a isso tudo sem citar o efeito positivo que Maradona causa nos argentinos em geral e em seus jogadores em particular. Suas entrevistas são carregadas de ironias e factóides inteligentes, de um patriotismo saudável – mesmo que sobrem alfinetadas para nós brasileiros de vez em quando – sempre com o objetivo de promover o espetáculo.

Carlos Alberto Parreira, por sua vez, tão educado quanto matreiro, transformou o interesse sul-africano pela bola numa grande paixão. Lidera uma seleção capaz de vencer a seleção francesa, por exemplo.
Está claro que não se pode ganhar todas as edições de Copas do Mundo – nós brasileiros não entendemos isso muito bem – mas a beleza do futebol é um pouco mais que o grito de gol, o toque bonito, o drible desconcertante ou a jogada de efeito. Está na elegância de respeitar os adversários, na festa apresentada no estádio ou nas ruas, no intercâmbio entre as culturas e – no caso dos treinadores – no trato educado com os jornalistas – que estudaram para fazer perguntas desconcertantes e buscar o contraditório.
Quanto ao nosso treinador, parece alguém transtornado por uma mania de perseguição – que acabou se tornando real por sua postura, sempre agressiva e arredia. Se ganhar a Copa fará disparos em todas as direções como o dono da verdade única e absoluta: o único campeão – a despeito da imprensa e dos brasileiros que adoram Ronaldinho e Neymar. Nota zero em maturidade emocional e educação. Quando esse moço aparecer de novo na TV vou tirar minha filha da sala.

Escrito por: Claudio Carneiro, no Opinião e Noticia

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Prece para o final da tarde


Cheguei onde cheguei carregando minha mochila com momentos bons e de pranto. Foi somando tais momentos que me vi expulso de uma zona de conforto mentirosa.

Quebraram o aquário onde eu me sentia abrigado. De repente, fui jogado no ribeiro e forçado a nadar em águas tumultuadas.

Aprendo a me desviar das rochas. Evito as cascatas.

Não, Senhor, não estou amargurado. Não guardo rancor dos belicosos que me estapearam. Das fossas, percebi que posso me despir das fantasias grandiosas que me escondiam de mim. Tu tens um jeito delicado de limpar as nódoas mal cheirosas que encardem a pele da gente.
Ensina-me a contar os dias que não existem, e que nem sei se viverei. Por enquanto, só preciso de ajuda para tirar do alforje coisas boas e ruins, o material de minha esperança.

Prece para o final da tarde
- Ricardo Gondim

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Da arte de não fazer amigos


1. Fale sempre a verdade, isto é, o que você acha que é verdade, mesmo que vá doer nos outros.

2. Seja sempre crítico, com olhos sempre atentos a tudo e a todos. Afinal, os defeitos devem ser revelados, para que as pessoas mudem.

3. Deseje que os amigos sejam sempre pontuais como você, corretos como você, dedicados como você, interessados como você.

4. Quando seu amigo errar, não o perdoe, porque ele não podia fazer o que fez.

5. Convidado para um aniversário de um amigo, faça qualquer outra coisa e não vá, mesmo que não seja nada, para não ter que encontrar pessoas desagradáveis.

6. Jamais dê um presente, sobretudo quando estiver bastante ocupado ou o dinheiro andar curto.

7. Na hora do jantar num restaurante, faça questão de dividir rigidamente a conta, real por real, centavo por centavo. Afinal, precisamos ser sempre justos.

8. Não responda às mensagens que os amigos lhe mandam.

9. Não desvie sua rota para dar carona a um amigo. Não saia da sua rotina para aceitar um convite.

10. Conte muitas histórias, todos os seus sonhos, mas nunca ouça os relatos dos outros, porque não são interessantes.

11. Pense que os amigos devem estar sempre à sua disposição e viva como se a recíproca não fosse verdadeira.

12. Jamais abra o seu coração com alguém.

Vi no blog do agora meu "amigo virtual" (risos) Pava.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio

A passagem do Novo Testamento que me levou a pensar no que escrevi nesta reflexão foi aquela em que o Mestre curou o criado de um centurião romano.

O texto é fantástico como tantos outros apresentados nos evangelhos!

Mas dois versículos que sempre passam despercebidos são centrais em todo o contexto daquele momento vivido pelo Senhor Jesus.

Refiro-me aos versículos 11 e 12, nos quais Ele diz: “... muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes”.

Um fundamentalista imediatamente diria: claro, muitos virão e se assentarão à mesa com os patriarcas se se converterem a Jesus Cristo. Contudo há uma observação simples para ser feita. O Mestre não diz que muitos virão e se converterão; Ele apenas diz que muitos virão e tomarão lugares.

Mais simples ainda fica essa leitura, quando se observa com cuidado a importância do centurião nessa história. Ele é a chave de tudo e a sua fé é o ponto de partida.

É importante lembrar que o centurião não era nem judeu nem discípulo de Jesus, logo não era membro do Judaísmo, muito menos do Cristianismo que ainda nem existia. Possivelmente, aquele centurião, como todo bom e autêntico soldado romano, era adorador de vários deuses e provavelmente do imperador romano. Numa linguagem cristã, ele era pagão, numa linguagem mais coerente, ele era um religioso politeísta.

Há ainda a hipótese de que nem religioso politeísta ele era, mas apenas um homem que de judeu e de seguidor de Jesus não tinha nada.

Uma segunda observação: ele não se torna cristão após a cura de seu criado. O texto nem relata isso, pois se ele tivesse se convertido, certamente estaria relatado. Mas não, ele permanece na condição (a) religiosa em que se encontrava quando foi procurar ao Mestre.

Portanto, o que um texto deste, se lido a olho nu, sem as lentes da religião cristã, sem os óculos da teologia sistemática ortodoxa e sem os pré-conceitos do fundamentalismo, poderá significar a não ser que Jesus Cristo é o Caminho, a religião – e aqui entra o Cristianismo também – o desvio, e a Graça o meio através do qual Deus salva o ser humano, seja ele alguém que se converterá em algum momento ao Evangelho ou não?

Neste sentido, não dá mais para afirmar que um ser humano que passa a sua vida inteira sem freqüentar uma “igreja de crentes”, irá para o inferno só porque não teve tal experiência. Graças a Deus, em muitos casos, pois há pessoas que quando resolvem freqüentar uma denominação evangélica se tornam loucas, manipuladas, bitoladas, cegas espiritualmente, enganadas, alienadas, bestializadas, e tudo o que for possível entrar nesta lista, menos alguém que de fato conheceu e compreendeu o Evangelho da Graça.

Com isso, quando muitos se convertem às “igrejas de crentes”, acreditam que estão no Caminho, quando na verdade estão no desvio. Têm uma facilidade enorme para apontar quem vai e quem não vai para o Céu, contudo, não se percebem como pessoas que carecem da Graça de Deus ainda mais, pelo simples fato de serem pessoas que não sabem fazer outra coisa, a não ser julgar o próximo.

Nisto creio e afirmo com todas as letras: Cristo é o Caminho, pois é capaz de salvar e ver fé genuína em um centurião romano, adorador de deuses estranhos, pagão e adorador do imperador, mas o Cristianismo é o desvio, pois consegue maquiar-se com as belezas sublimes do Evangelho, mas vive uma religião semelhante à dos fariseus dos tempos de Jesus, que eram zelosos e ortodoxos no que se refere à obediência ao texto, mas cegos na prática, sobretudo, por julgarem com facilidade, seres humanos que eram tão imperfeitos quanto eles.

Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois este pratica as maiores e mais terríveis atrocidades em nome de Deus; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois este ensina as pessoas, a ingênua e inocentemente negociarem com Deus a fim de conseguirem prosperidade financeira, como se Ele tivesse interesse em enriquecer materialmente os seus filhos; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois burra e admiravelmente se tornou a religião que menos entendeu os ensinamentos de seu próprio fundador – se é que Jesus foi o fundador desse negócio – ; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois consegue levar as pessoas a acreditarem que os não-cristãos irão para o inferno só porque não se tornaram cristãos, como se Deus só pudesse salvar pessoas por meio de experiências religiosas dentro das “paredes” da religião cristã; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois este em vez de tornar a caminhada cristã uma caminhada de liberdade e descanso, torna-a ainda mais penosa, turbulenta, repleta de regras e cargas a serem carregadas; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois em vez de manter as pessoas que acreditam estarem servindo ao Jesus apresentado nos evangelhos, consegue desviá-las a qualquer outro caminho que não é o Caminho da Graça de Deus em Cristo.

Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, por tantos outros e infindáveis motivos! Cabe agora a criatividade de cada um para continuar nesta reflexão, se é que para enxergar as discrepâncias existentes entre Cristo e o Cristianismo, seja uma tarefa que exija muita criatividade. Penso que não.

na Graça,
Jefferson Ramalho

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ódio ao surfista

Toni Vilella, herói guarujaense.
Os metidos a locais e valentões deveriam se espelhar na postura de vida dele e no exemplo que nos deixou...


Em um portal designado a atender surfistas de todo Brasil, este título pode soar fora de contexto. Não está. Na verdade trata-se de um comunicado institucional, dirigido a todos nós, surfistas, simpatizantes, iniciantes e veteranos.

Mas gostaria de substituir a palavra “ódio”. Meu pai sempre disse que é um termo muito forte para ser usado sem certeza. Concordo e como ele tem mais moral, então substituiremos por “não suporto mais surfista”.

Há muito tempo digo isso em razão do meu desapontamento com a rapaziada. Estou perto dos 30 e surfo desde os 15 anos, quando herdei do meu irmão uma “Flor da Ilha”. Muita gente vai se identificar com este início, principalmente quem é aqui de Florianópolis (SC) e que conhece esta prancha.

Meu nível de surf está para “amigo da raça”. Vez ou outra sai uma batida, uma rasgada legal, uma penteada e raramente um tubinho para ganhar o dia, honestamente falando, pois sei bem a diferença entre uma penteada e uma boa “tubaca”, o que muitos não sabem.

Não sou local de nenhuma praia. Aqui, como a maioria, sempre surfei de acordo com as condições, o que faz muito local sair do seu pico para procurar coisa melhor. Para mim está mais para ‘‘deslocalismo’’.

Mas enfim, o localismo existe e deve ser levado a sério. Pelo menos no Atalaia, Itajaí, o único lugar que pude realmente constatar que haole não entra. Só lá! Ou alguém discorda? Em qualquer outro lugar forasteiros entram sim e ainda fazem a festa, ou são “arregados”.

Mas não é do localismo que quero falar e sim da atitude dos surfistas. Um dia destes um amigo que não é do surf me descreveu como invejava os surfistas: “Bixo, esta turma do surf dá um banho. Sempre na praia, tudo em forma, curtindo a natureza, relaxadão...”.

Relaxadão? Curtindo a natureza? Tive que interrompê-lo para dizer que ele não fazia ideia do que estava falando.

Expliquei que hoje em dia existe o localismo. Que em muitas praias surfistas não aceitam outros surfistas. Que o surfista, o garotão da praia, envolvido com a natureza, é no fundo um preconceituoso.

Expliquei que a indústria fabrica surfistas que nada entendem do esporte, que acham que basta tirar a calota do carro, encher de adesivo e amarelar o cabelo para entrar na água berrando, bicudo, sem respeito por nada.

Muitos dizem que não se trata de um esporte democrático. Estive no Rio meses atrás e vi dezenas de moleques da favela andando de prancha na mão, amarradões, sem vícios de marcas ou modismos, apenas curtindo o que as ondas oferecem.

O que se percebe atualmente é que no surf não existe o menor sentimento de companheirismo. Dentro d’água, o sentimento é competitivo e nada amistoso, como se cada onda perdida, pega por outro, despertasse o pior sentimento nos espectadores ali presentes.

Em uma pista de skate, crowdeada de profissionais e amadores, basta um qualquer executar bem uma manobra que soa o coro: “yeah!”. Aliás essa raça do skate sim dá um banho.

Tomar o exemplo desta galera não é difícil. Alguém já experimentou andar em uma pista cheia?  Trombadas, skate dos outros “espirrando” na sua canela (o que machuca demais), porém nenhuma briga, xingamento.

E olha que nem o mar está ali para esfriar a cabeça. Acho que, inconscientemente, existe o respeito ao ser humano, ao desconhecido que está ali compartilhando a mesma experiência. Não vamos considerar como uma virtude o respeito, mas sim como algo essencial para a boa convivência, um acessório de fábrica.

Enfim, pode ser uma opinião bem pessoal. Uns podem se identificar e outros não. É capaz de ter gente me esperando com uma pedra na mão na minha próxima queda.

Queria ver a galera mais relaxada, menos tensão no mar, mais surf e menos desrespeito.
Que os iniciantes busquem entender os fundamentos do surf antes de entrar em um mar crowdeado. Procurem saber o que é preferência, que rabear não é legal, que o mar merece respeito.

E veteranos, vocês já foram iniciantes, tentem ser mais compreensivos e, ao invés de dar um esporro, ensinem, compartilhem experiências, auxiliem. Não é utopia. Pratiquem isso pelo menos uma vez e garanto que as próximas serão mais fáceis.

Costumo dizer que o surf se tornou um esporte ingrato, que estava me trazendo mais desilusões que alegrias. Até que ontem levei meu cunhado, portador da síndrome de down para surfar comigo.

E nele, deitado na prancha pegando uma espumera, eu vi a pureza do surf novamente.

Paz no surf galera!

Gabriel Longo, via Waves

Recomendo também a leitura dos comentários

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Meu carnaval

Meus carnavais são (e serão) sempre assim: tem folia melhor do que essa?
Foto do fabuloso
Ryan Tatar, via Goiabada

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ovos quebrados


Chega um momento em que a relação precisa quebrar os ovos. É bom estar preparado.

Será como o trabalho doméstico: transparente. Lava-se louça, roupa, estende, retira os vincos com ferro, limpa casa, recolhe o lixo, arruma os brinquedos e os filhos nem reparam que tudo está novamente no lugar e no armário, apesar da bagunça feita recentemente. É óbvio que não vão agradecer. É o que chamo de passado secreto. Aconteceu, mas não merece memória. Entretanto, a raiva fica: não fui valorizado e resta um desmemoriado mal-estar.

Minha namorada resolveu comer omelete. Ela já fez o prato outras vezes em seu apartamento.

Estava em casa e me antecipei na captura dos ingredientes, louco para agradá-la. Mas a minha menção de executar a tarefa a desagradou. Entenda, é o passado secreto. O ardiloso passado secreto. Com minha efusiva disposição, ela desconfiou de que não gostava de suas omeletes e que somente agora, decorrido um ano, estava com coragem de falar.

Raciocinei que significava uma informação dispensável, meu modo era dourar os dois lados e o dela era envelopar a massa ao final, mas ela tratava o assunto com tamanha energia que até me assustou.

- Quer que eu faça?
- Não gosta do jeito que faço?
- Gosto, é que eu mostraria minha predileção...
- Gosta nada, quem já fez omelete para você? Quer do jeito de quem? Confessa?
- De ninguém.
- Ora, vai nessa, qual é a receita? Com queijo ralado, requeijão, fatias? Por que nunca me disse que não gostava da minha omelete? Eu me sinto uma idiota...
- Eu gosto, só busquei uma maneira diferente.
- Que maneira?
(Daí eu me danei)

Levaremos mais tempo discutindo na tentativa de prevenir a discussão. A conversa durou duas horas. Duas horas sobre absolutamente nada, a não ser o medo do que não foi vivido junto. Se aliso seu umbigo, acreditará que repito um convite libidinoso com uma antiga namorada. Quanto mais a gente se entrega, maior é o pânico de estar sozinho na doação, de ser uma miragem afetiva. Tanto que após desfiar um "eu te amo tanto", não ouse nunca mais declarar "eu te amo" - é como se amasse menos.

O ciúme está dobrado em cada gesto, fazendo contas e pedindo estornos. Não há saída; passe manteiga na conversa, aqueça a frigideira e admire os ovos quebrados na pia.

Repare como o negócio é tinhoso. Durante as compras, no caixa, costumava perguntar se ela estava naquele momento com troco. Não falava dinheiro, mas troco. Uso troco para tudo. Para quê? Ela já formulou uma tese de que empregava o código com a ex. Igual sina em nossas rotas românticas. Relaxados, sozinhos e prontos para namorar, peço que ela me alcance o champanhe do balde: - Por favor, me passe a "champs"? “Champs”? Feito o entrevero. Usava também esse dialeto com a ex.

O grave é que ela tem razão. Só não desejava brigar, ainda mais quando não tenho defesa. Ela poderia ser mais justa e me dar tempo para preparar uma mentira.

Fabrício Carpinejar, via Pavablog

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

...sobre o tempo...

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana